domingo, 7 de março de 2010

The Cranberries

Tocam na quarta-feira no Campo Pequeno. Dizem-me que com a formação inicial. Nunca gostei da moçoila, sempre a achei antipática q. b.. Mas gosto do Eveybody Else is Doing it, so Why Can't We? (de 1993 e que tem Linger) e do No Need to Argue (de 94 e que tem muitas boas músicas, nomeadamente Twenty One). Depois há um ou dois singles relativamente interessantes. Porque os álbuns, sinceramente, não os conheço. Fica primeiro a citada Twenty One e depois um poema com o mesmo título da Teoria dos Conjuntos. Irei ao Campo Pequeno voltar a ter dezassete anos.



The Cranberries
[Twenty One]

Ao André

O Rambo encostado ao balcão da kitchnet, mil novecentos e noventa
e quatro. O Jonas sonhava com a Sandrina e o André guardava as laranjas
no saco para que pudéssemos, na tarde seguinte, fazer nova pontaria
às gaivotas que planavam junto ao sexto andar da casa da Alexandre
Herculano – e o Douro, em baixo, amparando a Serra do Pilar.

Vinte e um, Jorge, mal sabes tu o que é ter vinte e um anos. Eu não sabia.
O Rambo dizia da velhice como se a morte lhe estivesse já tão perto e a mim
e ao André só restasse esperar. Em mil novecentos e noventa e quatro
tínhamos ambos dezassete anos. Ele já tinha feito vinte e um, a música

dos Cranberries soava a um futuro distante. Passaram mais de dez anos.
As gaivotas continuam a planar sobre o Douro, a Serra do Pilar amparada
pelas águas, mas as laranjas acabaram quando mudamos de casa. O Jonas
esqueceu a Sandrina. O Rambo terá agora bem mais de trinta anos. E os
Cranberries soam à adolescência roubada pelo tempo – vinte e um, vinte e um,

vinte e um.